segunda-feira, 24 de setembro de 2012

1,2,esquerda,direita. 1,2,esquerda,direita...


O Facebook é bom e o Facebook é mau. O texto que se segue foi "pescado" recentemente no facebook e reflecte perfeitamente os mais e os menos das redes sociais. Eu não me lembro de alguma vez ter lido algo tão escabroso. Mas também não me lembro de ter sentido este ímpeto para responder! Então, cá vai!

"Esquerda ou direita?
Quando um tipo de direita não gosta de armas, não as compra.
Quando um tipo de esquerda não gosta de armas, quer proibi-las.

Quando um tipo de direita é vegetariano, não come carne.

Quando um tipo de esquerda é vegetariano, quer fazer campanha contra os produtos à base de proteínas animais.

Quando um tipo de direita é homossexual, vive tranquilamente a sua vida como tal.
Quando um tipo de esquerda é homossexual, faz um chinfrim para que todos o respeitem.

Quando um tipo de direita é ateu, não vai à igreja, nem à sinagoga, nem à mesquita.
Quando um tipo de esquerda é ateu, quer que nenhuma alusão a Deus ou a uma religião seja feita na esfera pública, excepto para o Islão

Quando a economia vai mal, o tipo de direita diz-se que é necessário arregaçar as mangas e trabalhar mais.
Quando a economia vai mal, o tipo de esquerda diz que os sacanas dos proprietários são os responsáveis e param o país.

Teste final:
Quando um tipo de direita ler este teste, fá-lo seguir.
Quando um tipo de esquerda ler este teste, não o transfere de certeza.
NOTA: o original deste texto é em Francês.
Foi traduzido para português, para que os de esquerda também o pudessem perceber."

Ora bem, quando a minha contra-argumentação ficou pronta, o comentário deixou de ser relevante no dito post (que conta agora com 29 likes), visto que já tinha sido inundado de outros comentários. Infelizmente, apenas um concordante com o meu. Mas a discussão já tinha dispersado para outros assuntos. Meti a viola no saco e vim para aqui. E aqui estão os meus "bitaites".
  
Este tipo de argumentação falaciosa, se é que se pode sequer considerar como uma argumentação, é que leva as pessoas a escolher para o Governo cabrões (perdoem-me a expressão) como aqueles que nós lá temos agora. Venho aqui como esquerdista, assumida sem problema nenhum. Já estou mais que habituada a acusações de recalcamento, extremismo, ressabianço… O que me quiserem atirar – força!

As armas, de qualquer tipo, não são brinquedos. São perigosas e esse perigo é directamente proporcional à estupidez de quem a tem. Se é para caçar patinhos, meus caros, quero lá saber. Mas quando são usadas como ferramenta de opressão social e como auxiliares de uma vida criminosa, a sua circulação tem que ser controlada. Não basta confiar nas pessoas. Veja-se o exemplo dos grandes Estados Unidos da América, onde o porte de armas é tão vulgarizado e de onde semana sim, semana sim, nos chegam notícias de tiroteios em escolas e de atentados contra igrejas muçulmanas (ou simplesmente, não cristãs). Ora se não podemos proibir as pessoas de ter facas em casa, porque nunca vi bifes serem cortados com colheres, podemos controlar pelo menos as armas de fogo, que são bem mais letais. Não é uma questão de “não gosta e portanto proíbe-se”, é simplesmente uma questão de segurança pública.

A acusação que mais me incomoda no meio de todas estas, ainda é “Quando um tipo de esquerda é homossexual, faz um chinfrim para que todos o respeitem.”. Todos os Homens nascem iguais em direitos e deveres, diz a Declaração Universal dos Direitos Humanos. E um dos direitos básicos de cada indivíduo é a liberdade, incluindo a liberdade de escolher quem quer amar. Se isso for motivo para desrespeito e discriminação, então sim, é caso para fazer a maior chinfrineira que se conseguir até lhe serem reconhecidos os mesmos direitos de que gozam os restantes indivíduos. O barulho feito em prol da igualdade entre os Homens NUNCA poderá ser classificado como “chinfrim”.

Relativamente à economia, há uma coisa muito importante a salientar – a responsabilidade. Foi incutido em todos nós, desde pequenos, o sentido de responsabilidade pelos nossos actos. Ora bem, é disto que se trata. Eu não acho que não se deva pagar as dívidas que temos. Mas acho que o pagamento deve ser justo. Não é tirar o pão da boca de uns (e acreditem que já há fome em Portugal, como já não havia desde o 25 de Abril de 74) enquanto os outros continuam a comer lagosta. Não me digam que quem come lagosta é porque trabalhou para tal, porque a fuga ao fisco é uma realidade em Portugal, tantas vezes ignorada mas que certamente, se controlada, taparia parte do buraco em que estamos metidos. Não se pode continuar a cortar nas reformas dos contribuintes que honestamente deram parte do seu salário à Segurança Social durante mais de 40 anos de serviço, com a garantia de que, quando se aposentassem, teriam direito a ele para manterem o seu nível de vida. Não se pode continuar a enxovalhar os professores, que são, afinal, os funcionários públicos mais importantes que um Estado tem. O objectivo aqui não é amuar. Não é um capricho. É uma luta pela justiça e pela igualdade.

Quanto à nota final, não mostra nada a não ser o sectarismo a que a direita nos vem habituando. Além de mais, é falso. Tanto eu como a maior parte dos esquerdistas que conheço, leriam este texto sem qualquer problema em Francês, assim como em Espanhol, Inglês e nalguns casos também Alemão e Italiano.

(Antes que caiam as acusações de que “quem cala, consente” em relação aos tópicos sobre os quais não me debrucei – vegetarianismo e religião – esclareço já que foi propositado, pois são ainda mais falaciosos que os restantes, visto que se baseiam meramente num conjunto de clichés, em estigmas, e não têm fundamento nenhum.)