sexta-feira, 18 de maio de 2012

Festança à Portuguesa




Pessoas aos gritos no meio da rua. Carros da Polícia. Agentes fardados. Multidões a olhar e a cochichar. Tiros. Crianças a chorar e cães a ladrar. Carrinhas da televisão por todo o lado.
Ok, estiquei-me. Risque-se da acta as crianças e os cães, era só a multidão. Também não houve tiros. E quando vim embora, não havia sinais da TVI...
No centro da acção estava um indivíduo, apanhado em flagrante delírio, digo, delito, que, em jeito de comício, gritava às multidões que assistiam "Meus Amigos, eu estou aqui por vocês! É pelo Povo que não abre os olhos!"
O dito Povo, sereno, assistia, comentava com o familiar do lado, explicava o que vira ao vizinho que acabava de chegar, criava teorias sobre o que se estava a passar.
Não interessa muito o que o homem fez ou não, quão alto berrava a mulher ou quantos elementos da Polícia estavam reunidos naquela, usualmente pacata, esquina. Tampouco interessa se a bota amarela foi pelo ar ou pelo chão, se a Guarda foi honesta ou se andava a brincar às escondidas. Também ninguém quer saber se as autoridades vieram em contra-mão ou não. O que se sabe é que já não se via um reboliço deste calibre aqui na rua desde do crime na padaria.
Mas mais que isso, diverte-me olhar para nós, "nós", Foz.
As boquinhas que eu já ouvi por ser "menina da Foz". Ui!, que chiques que nós somos. Nata da nata. Super bem.
E agora, olhem para isto. Tudo na rua, a ver o espectáculo! Já ninguém foi ao cinema naquela noite, o filme foi de tarde. Os almoços de Domingo das famílias tiveram todos direito a uma história daquelas que começa com "Vocês nem imaginam o que aconteceu na minha rua no outro dia!".
Somos tão parolos! Céus, vivemos a tentar escondê-lo, camuflamo-nos como conseguimos, enchemo-nos de aparato só para desviar a atenção de que somos todos iguais. E eu incluo-me. Não é com muito orgulho, mas confesso que, mal consegui parar o carro, voltei para o início da rua, afastei-me de casa para ir falar com quem conhecia, para ir ver mais de perto...
Não há Portuga que não goste de espectáculo à borla. Melhor ainda à porta de casa. E o fim de tarde daquela sexta feira quente de Maio naquele cruzamento da rua do Molhe é a prova dos nove.




1 comentário:

  1. que bem descreves essas cenas do nosso quase quotidiano. revivi parte da minha infância e juventude.
    beijo linda

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